De tempos a tempos, somos confrontados com o apelo dos mercados preferenciais: "O mercado A é que está a dar." Na segunda metade dos anos 90 foi o Brasil. Em meados desta década voltámo-nos para Espanha. Há dois anos, as agulhas viraram-se para Angola. Sempre com o patrocínio dos governos. Há em todos estes esforços o seu quê de patético. Porque são o reflexo de uma maneira de ser bem portuguesa: é o Estado que diz às empresas para onde ir (à boa maneira do Estado Novo). E se o Estado diz, isso vale como certificado de sucesso. O resultado não costuma (salvo raras excepções) ser brilhante: projectos falhados, capital torrado, retiradas estratégicas. Fenómenos acentuados pela inexperiência em lidar com outros mercados e pela incapacidade em antecipar mudanças no ciclo económico: quantas empresas anteciparam o impacte do risco cambial no Brasil dos anos 90? E quantas anteciparam os problemas de pagamento de Angola e o seu arrefecimento económico? Das que foram para Espanha, quantas anteciparam a Recessão? Numa altura em que se acena, novamente, com o "El Dorado" brasileiro, as empresas precisam de perceber que a aposta externa não tem de ser "ditada" pelos governos, mas pelo seu próprio esforço de prospecção. Além de que têm de estar preparadas para enfrentar variações dos ciclos económicos. Por exemplo, toda a gente fala do Brasil como uma economia onde o Céu é o limite. É mesmo assim? Ou é possível antecipar problemas de crescimento daqui por quatro ou cinco anos? Vale a pena pensar nisto agora, para evitar os erros das "modas" anteriores. 04 Janeiro2011 | 11:34 Camilo Lourenço - camilolourenco@gmail.com |
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