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O efeito de um "Obrigado"

Publicado a 28/01/2011, 05:38 por House Work
A literatura sobre liderança..., é abundante.


A maioria das obras oferece soluções importantes sobre temas nem sempre simples (por exemplo, como mudar uma organização, como levar a cabo uma fusão, como criar uma visão apelativa). Hoje, em contrapartida, trago ao leitor uma boa prática de liderança que pode ser usada todos os dias, não custa dinheiro nenhum, não precisa de trabalho de consultoria, e tem efeitos garantidos. Consiste simplesmente em agradecer. Na prática, "implementa-se" dizendo obrigado. Tão simples como isso. A prática da gratidão tem, além disso, outra vantagem adicional: pode ser aplicada por todos, do presidente ao menos graduado dos membros da organização. E pode ainda ser usada no sentido ascendente, descendente ou lateral.

Três referências ao tema da gratidão confluíram para a decisão de escrever sobre ele. A primeira, e a mais singela, encontra-se num livro que é uma delícia de ironia e de sabedoria. O trabalho chama-se "Up the Organization" e foi escrito por um homem com profunda experiência prática, Robert Townsend. O livro é, na verdade, uma pequena enciclopédia experiencial, organizada por entradas. Uma delas é precisamente "Thanks". O texto é esclarecedor: "Uma forma de compensação realmente negligenciada". Ponto final. 

A segunda referência que se recomenda sobre o tema é o livro "Obrigado!", de Robert Emmons, com edição portuguesa da Estrela Polar. A capa amarela com flores pode afugentar alguns leitores mas é preciso dizer que este é mais do que um livro de auto-ajuda. Emmons é professor na Universidade da Califórnia e editor do "Journal of Positive Psychology", uma revista científica dedicada às forças psicológicas humanas. O livro, devidamente fundamentado em trabalho científico, revela uma série de factos interessantes, embora não necessariamente surpreendentes, sobre o poder da gratidão: que beneficia a saúde; que estimula a qualidade dos relacionamentos; que potencialmente melhora a criatividade e o desempenho. Tudo factos aparentemente triviais, que todavia são diariamente torpedeados no mundo das empresas. A explicação para esta discrepância é simples e não necessariamente boa: o mundo das empresas não se compadece com estas formas de "moleza". Se o leitor preferir uma explicação mais elaborada, pode dizer que "when the going gets tough the tough gets going". 

A terceira referência ao tema, encontrei-a na edição de 24 de Novembro de 2010 do "Wall Street Journal Europe". O título da peça é "Giving thanks benefits your well-being". O texto discute os efeitos reparadores da gratidão, bem como o poder da reciprocidade. Damos aos outros na medida em que recebemos: quem dá gratidão recebe-a também em troca; quem pratica a ingratidão não deve esperar paga diferente. O "WSJ" consulta Emmons e refere, entre outros aspectos, o poder da gratidão para contrariar o "enviesamento de negatividade" - a nossa tendência para matutar sobre o negativo - bem como o poder de um agradecimento feito em pessoa - mais do que por mail ou telefone. 

Sendo o anterior óbvio, como explicar, a título de exemplo, o pedido de um chefe, sexta ao final do dia, para que uma sua colaboradora lhe entregue um determinado relatório segunda pela manhã? E como entender a reacção à entrega atempada, "Ah, deixe aí. Agora não tenho tempo, mas quando puder leio." Liderar pode ser um exercício de maquiavelismo simplório. 

Pense para terminar, caro leitor, na sua própria organização e conte o número de obrigados que recebe. Experimente depois agradecer mais vezes àqueles que o rodeiam - quando for justo e justificado. Mas esteja mais atento às oportunidades. E depois conte os obrigados que recebe de volta. E, já agora, obrigado por ter chegado ao fim. 


*O ingrediente (pouco) secreto da liderança 

Professor catedrático, Faculdade de Economia, Universidade Nova de Lisboa 
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28 Janeiro2011  |  11:36
Miguel Pina e Cunha 
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