"Estas preocupações resultam de motivações diversificadas, conforme o ponto de vista, mas assentando basicamente nos seguintes vectores:
- O parque edificado, nas partes mais antigas das cidades encontra-se numa situação de debilidade, por ausência ou escassez de conservação corrente, e em muitos casos por se ter atingido o limite de vida dos materiais;
O desenvolvimento de estratégias de qualificação urbana, em que a preservação, a reabilitação e qualificação patrimonial desempenham um papel revitalizador, criando um perfil mais atractivo para os aglomerados, com melhoria da qualidade de vida urbana entendida como atributo de competitividade e de revitalização económica social e cultural;
- Implementação de políticas de preservação do ambiente, procurando com a renovação e a reabilitação a diminuição da pressão sobre a utilização das matérias primas, a obtenção de espaços suplementares para comércio e habitação, a resolução de problemas de acessibilidade, de segurança e de rentabilização das infra-estruturas existentes.
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Na actualidade, a reabilitação do património edificado ganha uma nova dimensão, tanto no plano da gestão administrativa como da gestão técnica devido à menor pressão demográfica sobre as cidades, à necessidade de requalificação de espaços urbanos, às novas políticas ambientais e também devido ao regime de propriedade horizontal implementado a meados deste século para fazer face à concentração demográfica associada ao desenvolvimento industrial.
No processo de reabilitação de edifício de habitação, poderão considerar-se dois grandes grupos de análise:
a) Os edifícios que isoladamente ou em conjunto constituem património de interesse histórico-cultural;
b) Os edifícios que pelas suas características e de inserção urbana, não tenham qualquer interesse desse ponto de vista.
A reabilitação é sob o ponto de vista económico classificada segundo tipos de reabilitação, interessando ao presente estudo, a reabilitação do tipo excepcional e envolvendo os edifícios indicados no grupo a).
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MOTIVAÇÃO DA REABILITAÇÃO URBANA
As operações de reabilitação urbana são envolvidas e motivadas por um número diversificado de razões de carácter cultural, social e económico, salientando-se as de:
- Interesse histórico- cultural;
- Degradação acentuada do património;
- Economia no plano das infra-estruturas públicas;
- Revitalização económica de núcleos urbanos degradados nos centros das cidades;
- Equilíbrio interno da estrutura urbana;
- Escala e imagem da cidade;
- Reforço da industria da construção civil.
INTERESSE HISTÓRICO-CULTURAL
Os edifícios testemunham o saber, a capacidade técnica de quem os concebeu, a cultura daqueles que os construíram e das pessoas que por eles passaram e os foram moldando às necessidades de cada momento.
E no plano do interesse histórico-cultural que se destaca a necessidade que o homem tem, de manter elementos de referência que lhe confiram equilíbrio e estabilidade.
Face à rapidez de evolução do mundo moderno e da facilidade de contacto de culturas, regista-se uma maior necessidade de estabilidade ao nível dos pontos de referência e daí o crescente movimento de interesse pelas raízes que nos ligam ao passado, e naturalmente pela preservação do património edificado.
O interesse pela preservação do património edificado no plano histórico cultural não resulta no entanto de uma atitude emergente, mas sim de uma atitude secular, que tem graduações diferentes no tempo.
DEGRADAÇÃO ACENTUADA DO PATRIMÓNIO
A degradação acentuada do património será a razão que mais fortemente motiva a necessidade de intervenção.
Como património entende-se hoje não só os edifícios que vêm dos tempos anteriores ao nosso e de vetustez consagrada, mas também daqueles que tem qualidade, mesmo que construídos em épocas mais recentes, e de uma maneira geral toda a obra que enriquece o ambiente urbano.
Nesta perspectiva deve notar-se O interesse que o património tem para qualquer país, e que a noção de património é hoje um conceito que se universaliza, tanto mais quanto se universalizam as técnicas, a ciência e O conceito de viver. É hoje uma noção alargada, deixa de ser o edifício isolado, passando a ser o conjunto de edifícios.
O termo património está ligado à noção de qualidade, por sua vez ligada á dimensão tempo como factor de segurança. Ao contrário das construções correntes, entende-se como algo que se destina não apenas a uma geração mas a varias, algo que não é verdadeiramente nosso, mas um legado recebido e que nos obrigamos a transmitir.
Evitar a degradação do património, contrariando a tendência para a obsolência , preservando-o , representa uma acção de complementaridade entre o progresso e a defesa de um recurso insubstituível.
ECONOMIA NO PLANO DAS INFRAESTRUTURAS PÚBLICAS
No plano da economia das infra-estruturas públicas, observa—se que a suburbanização, expansão geográfica e dispersão da população pelas áreas circundantes ao pretender resolver alguns problemas, agravou outros.
A tendência para a suburbanização gerou um aumento de deslocações diárias, intensificando e aumentando a poluição do ar, o congestionamento do tráfego e o aumento do nível de ruído, criou mais dificuldades de acesso aos locais de trabalho, diminuiu o tempo disponível.
Da adopção de uma melhor coordenação espacial entre os locais de trabalho e residencial, resultará uma maior economia na utilização das infra-estruturas públicas. Será mais económico colocar em funcionamento um determinado número de fogos em edifícios reabilitados, utilizando infra-estruturas construídas, do que proceder a novas urbanizações.
A renovação e a reabilitação são soluções cada vez ,mais frequentes para obtenção do espaço suplementar para comércio e habitação. Estas soluções, juntamente com as pressões para a conservação do ambiente, podem constituir um desejável travão a uma expansão urbana desequilibrada, permitindo uma utilização mais económica das infra-estruturas publicas.
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EQUILÍBRIO INTERNO DA ESTRUTURA URBANA
Grande parte dos problemas habitacionais das cidades europeias estão ligados as partes mais velhas das zonas antigas. Estas zonas associam elevados níveis de pobreza, falta de oportunidades económicas, problemas de segurança, problemas ambientais, problemas de acessibilidade etc.
Perante este quadro desenvolvem-se estratégias de revitalização económica das partes antigas, reconcentrando actividades económicas de mais alto nível, associando a restruturação do espaço, a melhoria do ambiente, a estabilização ou o crescimento da população por afluxo de novos residentes.
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EQUADRAMENTO DO MOVIMENTO DE REABILITAÇÃO URBANA
O conjunto das motivações no sentido da reabilitação não deverão ser analisadas desinseridas de uma perspectiva económica, qualquer que seja o ponto de vista, privado ou público, dada a escassez de recursos e a exigência de optimização das intervenções integrando as funções: custo, tempo, recursos e qualidade pretendida.
E no essencial o desejo de progresso que impulsiona as preocupações com as operações de preservação do património, pelo que a optimização deve ser praticada.
E função dos métodos de avaliação económico-social clarificar as alternativas presentes: demolir vender ou reabilitar, e neste caso como reabilitar procurando não descaracterizar ou degradar os edifícios, obter economia e eficácia nas soluções. Construir com os recursos definidos, adoptando as soluções escolhidas e construir nos prazos compatíveis com a utilização dos materiais e obter a qualidade e níveis de satisfação definidos.
A aplicação dos métodos de avaliação nem sempre é fácil em algumas da vertentes, por ausência de dados no que respeita à durabilidade dos materiais, escassez de informação de caracterização técnica sob o ponto de vista térmico, acústico, de reacção ao fogo, e de compatibilidade.
No plano social é possível e desejável a avaliação da melhoria da qualidade de vida das populações interessadas, da satisfação de necessidades básicas e da melhoria da inserção do espaço urbano na cidade."
Autor: António Jorge Nunes
Excerto Adaptado
Imagens: Françoise Bollack Architects, Urbe
Fonte: http://www.engenhariacivil.com/reabilitacao-patrimonio-edificado-cidades